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Foto do escritorLeandro Sipriano

Inteligência Artificial como ferramenta da Cibercultura

Com o lançamento da Inteligência Artificial (IA) da ONG Arco, alguns pontos precisam ser discutidos do ponto de vista do impacto que ela pode ter tanto para a comunidade que segue o perfil quanto para aqueles que abram uma janela de conversa do perfil do Instagram da ONG e tentar trocar uma ideia com a SOFIA.

Para recapitular um pouco do que a SOFIA é capaz, de acordo com a notícia publicada no próprio site da instituição, “Sofia responde sobre gênero e sexualidade, saúde, redução de danos e acesso a direitos”. A partir do uso das palavras-chave SALA DE AULA, KIT GAY e REDUÇÃO DE DANOS, o usuário consegue ter acesso a informações educativas relacionados à comunidade LGBTQIAP+, dados estatísticos referentes à violência contra essa população, legislação e direitos e até mesmo informações de prevenção a ISTs e de como diminuir os efeitos de substâncias psicoativas.


A tarefa de educar da ONG adentrou o mundo virtual para oferecer, o que antes estava em material impresso e publicações feitas na linha do tempo, a chance de manter uma conversa entre o usuário e a SOFIA. A partir disso, é possível pensar quais são os pontos ao redor dessa mudança no estabelecimento de comunicação entre um ser-humano e uma ferramenta digital humanizada. Para isso, a Cibercultura pode ser um pontapé para entender esse caminho trilhado para inclusão de novas tecnologias capazes de auxiliar e educar pessoas.


A estrutura de discussão do tema cibercultura, tomada de empréstimo da obra do autor Pierre Lévy cujo nome possui o mesmo nome do tema, levará em conta os seguintes tópicos:


• Inteligência Coletiva;

• Virtualização do Saber;

• Interatividade e Ciberespaço;

• Desafios Éticos e Sociais.


Uma vez que o propósito da Arco com seu trabalho estendido por meio digital com a implementação da SOFIA nas mensagens privadas do Instagram, isso evidencia o papel da tecnologia como intermediadora desses saberes compartilhados na rede de maneira customizada, menos impessoal pela presença de uma figura antropomorfizada criada digitalmente. Neste ponto, entra a Inteligência Coletiva discutida pelo autor quando se fala de uma mobilização dos usuários em compartilhar conhecimento, criando uma rede colaborativa em que todo mundo pode participar da discussão, agregar conhecimento, retroalimentar uma base de dados informativa construída por colaboradores virtuais. Embora o entendimento do autor referente ao modo de participação dos atores/usuários, a contribuição para o conhecimento dos temas citados anteriormente neste texto, com certeza contribuem para que essas informações sejam futuramente compartilhadas dentro ou fora das redes sociais.


O segundo ponto possui relação estreita com o que foi dito anteriormente sobre a potencialidade que essas informações podem trazer de forma positiva e dedicada. No momento que alguém chama a SOFIA, ela serve como um canal informativo privado com informações já existentes na Internet. Essa comunicação, de forma imediata ou não, contribui para uma comunidade cada vez mais informada sobre questões de legislação protetiva em casos de violação de direitos LGBTQIAP+, redução de danos, prevenção a ISTs e canais de diálogo para quem precisa de atendimento para tratar da saúde mental. A intermediação dessa ferramenta para contribuição do saber coletivo, corresponde bem ao que está vinculado à Virtualização do Saber.


Um contraponto, já declarado no texto, relativo à maneira de relacionamento que se estabelece com as ferramentas digitais, precisa ser observado em duas perspectivas: o lado positivo de criar laços por meio das redes com outros humanos e os benefícios trazidos pelo uso de uma IA. A ideia de interatividade trazida pelo autor está mais para o lado da intermediação das ferramentas de rede como intermediadoras com material bruto, por meio das quais os humanos podem interagir entre si e gerar conhecimento coletivo, interação e até mesmo diversão. Ao passo que ferramentas como a SOFIA simulam uma aparência humana com interpretação de dados produzidos por humanos, porém sem de fato mobilizar o que colide com a base do que Lévy discute acerca de Interatividade no Ciberespaço.


Os desafios éticos e sociais do uso de ferramentas virtuais tem sido discussão antes mesmo da popularização das Inteligências Artificiais. Porém, a preocupação sobre esta novidade recai na origem do que é retornado sob comando de um usuário, as consequências desse relacionamento entre humano e máquina, a veracidade dos dados e a capacidade dos usuários de filtrar e até mesmo conseguir analisar de forma crítica o que é mostrado para eles. Então, o aprendizado desta ou de qualquer outra tecnologia é essencial nesta época de fluxos de informação múltiplos, pois os usuários também precisam estar atentos ao que produzem e recebem.


De modo geral, o uso de novas tecnologias para propagar informações tem sido uma missão bem-aceita há um bom tempo, porém a IA tem um longo caminho a trilhar para chegar em um patamar que possa trazer a interação humana intermediada pelas redes sociais, nas quais todos possam passar pelas postagens livremente, interagir e aprofundar discussões. A colaboratividade em rede entre os indivíduos, a virtualização do saber, a interatividade e as questões éticas sobre o seu uso ainda são desafios, mas não significa que configurem obstáculo ao uso, muito menos ao aproveitamento dos diversos benefícios que uma Inteligência Artificial é capaz de oferecer.


Referência


LÉVY, Pierre. Cibercultura. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2014. 270 p.

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