A estratégia neopentecostal de influenciar o Congresso e as assembleias legislativas ameaça a pluralidade e visa restringir direitos de grupos historicamente marginalizados.
O avanço do movimento neopentecostal no Brasil não é apenas um fenômeno religioso, mas também (e principalmente) uma estratégia de poder que visa influenciar as estruturas políticas. Ao longo dos últimos anos, líderes neopentecostais têm investido pesadamente na eleição de representantes com o objetivo de ocupar cargos públicos e moldar legislações conforme seus valores e crenças.
Esse plano de poder tem se manifestado especialmente no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas estaduais e municipais, onde parlamentares neopentecostais defendem agendas ultraconservadoras. Essas pautas, muitas vezes, estão alinhadas com uma visão de mundo restritiva e buscam limitar direitos de grupos marginalizados, especialmente LGBTQIAP+, mulheres e religiões de matriz africana.
A formação de uma "bancada evangélica" consolidada é uma das principais táticas utilizadas. Esses parlamentares atuam de forma articulada, em blocos coesos, para promover projetos de lei que atendam aos interesses religiosos e barrar avanços em direitos civis. Por exemplo, há propostas que buscam dificultar o acesso ao aborto legal, criminalizar manifestações culturais ligadas a religiões afro-brasileiras e impedir discussões de gênero nas escolas.
Além disso, líderes neopentecostais têm explorado o uso estratégico de redes de mídia, rádios e canais de TV para ampliar seu alcance. Esses meios de comunicação, muitas vezes controlados pelas próprias igrejas, difundem uma narrativa de "moralidade cristã" e condenam ideologias progressistas. Assim, conseguem engajar fiéis e construir uma base sólida de eleitores.
O financiamento das campanhas eleitorais desses candidatos também é notável. Igrejas neopentecostais têm acesso a grandes recursos financeiros, obtidos através de doações dos fiéis e incentivos fiscais. Esses fundos são investidos para garantir que candidatos alinhados com seus valores tenham visibilidade e, consequentemente, sejam eleitos.
Outro aspecto preocupante é a influência dos pastores sobre os fiéis, que são incentivados a votar em candidatos específicos. Em muitas igrejas, é comum ver orientações explícitas durante os cultos sobre como o voto deve ser exercido. Esse controle ideológico transforma o voto em uma extensão do poder religioso e subverte o caráter laico do Estado.
A ocupação de cargos públicos por fundamentalistas religiosos altera a dinâmica legislativa, colocando em risco a pluralidade e a democracia. Com isso, o Legislativo torna-se um campo de batalhas morais e deixa de priorizar pautas de interesse coletivo. Em vez disso, privilegia-se uma agenda baseada em dogmas religiosos, o que inviabiliza discussões amplas e diversas.
Esse movimento não se limita ao Brasil; ele se conecta a uma tendência global de ascensão de políticos ultraconservadores. No mundo, líderes com pautas semelhantes têm emergido, promovendo discursos de ódio contra minorias e reforçando estereótipos. Esse fenômeno revela a força de uma onda conservadora que transcende fronteiras e impacta diretamente os direitos humanos e a liberdade.
Frente a essa realidade, é essencial que a sociedade civil se mobilize para defender a laicidade do Estado e a diversidade cultural e religiosa. Somente com a resistência organizada será possível preservar a democracia e impedir que ela seja subjugada por interesses religiosos que não respeitam a pluralidade. O futuro da representatividade política depende da conscientização sobre o risco que esse projeto de poder representa para a liberdade e a justiça social. O que você ainda vai esperar para se engajar na luta? Você realmente acha que está em segurança?
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