Navegue pelos impactos pós-pandemia na saúde mental da comunidade LGBTQIAP+ e descubra estratégias para uma vida mais equilibrada e consciente.
Estar no mundo é estar em exposição, mais do que isso, é estar o tempo todo em um estado cíclico entre interagir e ser o alvo da interação. É claro que isso pressupõe as mais belas experiências (como encontrar esse blog, preocupado com você e como tem vivido sua identidade) ou outras nem tão boas assim.
Nesse sentido, como parte de uma comunidade minoritária é seu papel cuidar da sua Saúde Mental e aprender a gerir sua vida com consciência e independência. Hoje, nós da Arco, temos algumas dicas sobre a importância da saúde mental e como garantir uma mente mais saudável.
A realidade da comunidade LGBTQIAP+ pós-pandemia
Segundo o Relatório Técnico da Agenda Mais SUS de Maio de 2023, a partir de 2021 a população brasileira identificada como parte da comunidade LGBTQIAP+ apresentou graves números em relação à saúde mental. 55,19% apontaram um declínio em sua saúde mental de 2020 para 2021.
Esse dado corresponde diretamente ao fato de que 6 em cada 10 pessoas LGBTQIAP+ tiveram suas rendas diretamente afetadas pela pandemia, 4 a cada 10 entrevistados afirmaram estar vivendo em situação de insegurança alimentar e 1 a cada 10 pessoas que menstruam relataram dificuldades para comprar absorventes durante o período.
Como resultado, entre pessoas cis na comunidade há uma estatística de até 56% dos entrevistados depressivos que tem participação com as despesas do lar, enquanto entre LGBTQIAP+ trans que ajudam com as despesas do lar a depressão marca uma porcentagem de 61%.
O que é Saúde Mental?
A saúde mental, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), corresponde a “um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade.” Não está apenas relacionada aos diagnósticos psiquiátricos crônicos, mas à qualidade de vida de um indivíduo em sua comunidade e seu desenvolvimento profissional e pessoal.
Assim como a saúde física, a saúde mental é afetada pela alimentação, histórico familiar, uso de substâncias, estresse no ambiente profissional ou domiciliar, ou seja, está intimamente ligada ao estilo de vida do indivíduo e, portanto, todas as circunstâncias que o afetam terão resultados diretos em sua saúde mental.
No competitivo mundo capitalista verticalizado, é comum as pessoas sentirem-se solitárias, ansiosas e sobrecarregadas, o que potencializa o surgimento de doenças mentais como ansiedade e depressão, além dos diagnósticos já encontrados na população. Com o advento e popularização da psiquiatria e psicologia, o conhecimento acerca da saúde mental e tratamentos estão cada vez mais acessíveis, quase não acompanhando, porém, o número de quadros psiquiátricos, que cresce por todo o mundo.
Um relatório da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) de 2023 afirma que a saúde mental dos povos das Américas foi completamente afetada após a pandemia por Covid-19. Apesar disso, a maioria da população ainda não busca ajuda profissional necessária. Segundo o relatório, mais de 80% das pessoas com problemas graves de saúde mental (como psicose) não receberam tratamento adequado em 2020.
A Nova Agenda para a Saúde Mental na Região das Américas destinou dez recomendações para fomentar a boa saúde mental nas nações, entre elas, “Integrar a saúde mental em todas as políticas”, “melhorar e expandir os serviços e cuidados de saúde mental baseados na comunidade” e “adotar uma abordagem transformadora de gênero para a saúde mental”.
Saúde Mental e a Comunidade LGBTQIAP+
Conforme mencionado anteriormente, o cuidado com a saúde mental é imprescindível para uma vida longínqua de qualidade. É importante ressaltar que cuidar da sua mente interfere no bem-estar individual e coletivo, haja vista que a informação e tratamentos gratuitos e/ou facilitados geram uma comunidade LGBTQIAP+ mais saudável, apta e presentes nas diversas instâncias do país.
A Política Nacional de Saúde Integral da População LGBTQIA+ (Portaria n°2.836 de 1° de dezembro de 2011) foi instaurada no Sistema Único de Saúde como uma política pública com o objetivo de combater os preconceitos dirigidos à comunidade e eliminar “a discriminação e o preconceito institucional, bem como [contribuir] para a redução de desigualdades e a consolidação do SUS como sistema universal, integral e equitativo”.
Uma recomendação para uma melhor Saúde Mental com a letra de cada sigla
Linha de apoio emocional CVV 188 (https://www.cvv.org.br/)
O Centro de Valorização da Vida atua com sua linha telefônica 24 horas com voluntários treinados em combate ao suicídio para ligações de emergência. Além disso, o site conta com chat virtual e atendimento via e-mail.
Google maps “LGBTQIAP-friendly”
Nada melhor para sua Saúde Mental do que estar em ambientes que abrace suas bandeiras e sua identidade. Estabelecimentos públicos disponíveis no Google Maps têm a opção de marcar seu apoio à comunidade. Busque as tags “LGBTQ-friendly” e “Transgender Safe Space” ou “Ideal para LGBT” e “Espaço seguro para pessoas transgênero” nos atributos de seus restaurantes, shoppings, casas de show e estabelecimentos comerciais de sua preferência.
Buscar formar uma rede de apoio
É muito importante ter pessoas que se preocupam com seu bem-estar próximas a você, podem ser profissionais da saúde, professores, familiares, amigos próximos ou até virtuais com quem você possa conversar sobre sua saúde mental.
Tratamentos e busca de ajuda profissional
Autodiagnósticos podem ser imprecisos e falhos, gerando ainda mais riscos à sua saúde. Busque um médico caso haja necessidade e procure ter uma boa rotina de cuidados com sua mente, com exercícios regulares, boa alimentação e atividades que alimentem sua mente e espírito.
O SUS conta com atendimento psicossocial gratuito nos Centros de Atenção Psicossocial (verifique a disponibilidade da sua região).
Questionar suas crenças limitantes
Em meio a uma crise global como a que enfrentamos nos últimos anos, é comum que nossas noções de mundo, de nós mesmos e dos outros fiquem deturpadas. É importante para o cuidado com sua saúde mental alimentar-se de boas experiências (sempre que e como for possível), questionando e até anulando as crenças negativas sobre si mesmo e suas experiências. Você é uma pessoa válida!
Informar-se sobre as políticas públicas do seu país, estado e município
Saber seus direitos como cidadão, profissional e membro da comunidade LGBTQIAP+ é o primeiro passo para defendê-los. Pesquise as políticas públicas nacionais, estaduais e municipais da sua região e use a informação a seu favor.
Abrata (https://www.abrata.org.br/)
A Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) é uma comunidade que promove encontros online em grupos de diversas mediados por voluntários e psicólogos, voltados ao público de familiares e portadores de doenças como depressão e transtorno bipolar.
PsiTá-On (ARCO)
Projeto aqui de casa (da ARCO) que visa reduzir as desigualdades e a violência contra pessoas LGBTQIAP+ e negras, por meio de acompanhamentos gratuitos por profissionais para o público que não pode custear tratamentos particulares.
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