Uma tradição ancestral de gênero presente nas culturas indígenas norte-americanas que pensava e fazia gênero de forma não-binária.
We'wha (esqueda), Osh-Tisch (centro) and Dahteste (direita). (John K. Hillers, Image Courtesy of: Smithsonian Institute/John H. Fouch/F.A. Rinehart, Image Courtsey of Omaha Public Library)
A identidade "Two-Spirit" é uma das mais antigas formas de compreender a diversidade de gênero no mundo indígena norte-americano. O termo "Two-Spirit" foi cunhado na década de 1990, durante um encontro de lideranças indígenas em Winnipeg, no Canadá, para unificar as diversas expressões culturais e de gênero encontradas nas diferentes expressões culturais de povos originários daquele território.
Essa identidade, que muitas vezes é considerada como um terceiro gênero, abrange pessoas que possuem uma expressão de gênero ou sexualidade diferente da norma binária ocidental (homem/mulher).
Segundo o Psicólogo Carlos Santos, presidente da ONG Arco LGBTQIAP+, "Podemos considerar a compreensão de gênero desses povos originários como uma tecnologia ancestral de gênero e sexualidade, pois suas experiências transgressoras desafiam a cisheteronormatividade, o binarismo, o sexismo e o patriarcado."
O papel dos "Two-Spirits" na sociedade indígena é multifacetado, eles podem desempenhar papéis xamânicos, curandeiros, mediadores de conflitos, artistas e líderes políticos. Muitas vezes, eram considerados como pessoas sagradas e possuidores de dons espirituais.
Embora a identidade "Two-Spirit" tenha sido reprimida e apagada pela colonização europeia, ela continua sendo valorizada e celebrada por muitas comunidades indígenas. Segundo a antropóloga Lisa Tatonetti, "a sabedoria e as práticas dos 'Two-Spirits' são fundamentais para a compreensão da diversidade sexual e de gênero nas culturas indígenas e para a reconstrução da identidade e dos direitos desses povos".
A valorização da identidade "Two-Spirit" também tem um papel importante na luta pelos direitos LGBTQIAP+. Em 2019, o movimento "Two-Spirit" foi reconhecido oficialmente pela primeira vez pela cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, como parte do Mês do Orgulho LGBTQIAP+. Isso foi um passo importante para a inclusão e visibilidade dessa identidade, que ainda é pouco conhecida fora das comunidades indígenas.
É importante ressaltar que a identidade "Two-Spirit" não é homogênea e não pode ser generalizada para todas as tribos indígenas. Cada cultura tem suas próprias expressões e rituais relacionados à diversidade de gênero e sexualidade. Além disso, é importante que a valorização da identidade "Two-Spirit" não se transforme em uma apropriação cultural.
Por fim, a identidade "Two-Spirit" é uma das muitas formas de compreender e respeitar a diversidade de gênero e sexualidade existentes no mundo. Ao reconhecer e valorizar essa identidade, estamos contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde todas as pessoas possam expressar suas identidades de forma livre e sem medo de discriminação.